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DESMISTIFICANDO O ÓCIO PARTE 01

Por Marcio Santim

Há algum tempo atrás, o ócio era considerado algo totalmente desvinculado do trabalho ou até mesmo o seu oposto, em razão de ser tratado como sinônimo de preguiça e de improdutividade.

Atualmente, temos algumas teorias filosóficas e práticas de gestão adotadas por algumas empresas que retratam uma visão completamente diferente com relação às posições tradicionais nos seguintes termos: o ócio criativo pode e deve ser estimulado, mediante políticas adequadas de gestão, como modo comportamental de suma importância para que o funcionário desempenhe as suas atribuições de forma mais efetiva diante da estimulação de sua criatividade, constituindo-se simultaneamente como um meio para se alcançar melhorias na qualidade de vida pessoal.

Como exemplo, podemos citar o estilo de gestão empregado pela Google que disponibiliza 30 % do tempo de serviço atribuído aos seus funcionários para atividades relacionadas ao ócio. Nesse sentido, a filosofia dessa e de outras empresas é de que o tempo investido para o usufruto do ócio reflete positivamente no desempenho profissional.

A principal razão disso é que o foco obsessivo no trabalho provoca uma sobrecarga psíquica no indivíduo, não lhe permitindo o relaxamento necessário para que a sua consciência possa assimilar melhor ideias ou encontrar vias alternativas para a solução de diversos problemas enfrentados pelas organizações.

Um dos resultados nesse foco desmedido nas atividades profissionais que faz a vida pessoal ficar totalmente submetida aos ditames do trabalho, está no aparecimento de diversos tipos de problemas psicológicos, entre eles: transtornos depressivos e de ansiedade em que ainda nesses casos há forte probabilidade para se des dobrarem na Síndrome de Burnout.

Grosso modo, o conceito dessa síndrome foi elaborado na década de 1980 pelo psicólogo Herbert J. Freudenberger para caracterizar um estado de esgotamento físico e mental experimentando por diversos trabalhadores em razão da constante pressão a que eram expostos nas relações de trabalho; inclusive, muitas vezes estimulada por diversas formas de assédio moral presentes nos ambientes profissionais em que pairavam sobre a cabeça dos subordinados constantes ameaças de demissão ou outros tipos de repreensões, caso determinadas metas produtivas não fossem atingidas.

Atualmente, fala-se muito a respeito do tema e se faz bem pouco para melhorar efetivamente as condições envolvidas no ambiente de trabalho e que são, sem sombra de dúvida, uma das principais causas de adoecimento psíquico.

A princípio, o estresse não deve ser considerado doença, mas sim uma condição psicológica e fisiológica que se mantiver constante, a ponto de se tornar crônica, poderá desencadear diversos tipos de problemas psicossomáticos nas pessoas.

Enquanto o estresse funcionar como sinal de alerta diante de determinadas ameaças que podem ser tanto de ordem física quanto psíquica, tal estado possui uma função positiva na vida dos indivíduos por apontar que algo não está indo bem e, portanto, de alguma forma precisa ser evitado ou resolvido, a fim de se precaver contra o aparecimento de infortúnios mais graves futuramente.

Na realidade, o elemento desafiador para o êxito das ciências sociais e biológicas, relaciona-se ao fato de que a maioria dos trabalhadores tem pouco domínio sobre as condições estressantes presentes no seu ambiente de trabalho e ficam à mercê de uma hierarquia de comandos em que, muitas vezes, nem sequer é possível identificar a sua origem, isto é, a cadeia de comando é tão grande que extravasa determinados ambientes de trabalho, perpassando pelas dimensões micro e macro social.

Há uma constante pressão nos diversos tipos de ambientes de trabalho onde todos se sentem coagidos, independentemente do nível hierárquico ocupado. Quanto às condições que causam estresse no trabalho, já estamos cansados de ouvir e não haveria muito a acrescentar a título de informação, porém temos muitas coisas a serem mudadas efetivamente para auxiliar em uma melhora significativa no nível de qualidade de vida apresentado pelas pessoas.

No próximo artigo, citaremos alguns desses elementos.

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POR MÁRCIO SANTIM