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DEATH TO 2020 (2020 NUNCA MAIS) PARTE1

DEATH TO 2020 (2020 NUNCA MAIS) PARTE1

Por Márcio Santim

E vamos começar o ano com a análise de mais um filme produzido pelos criadores da série Black Mirror, Charlie Brooker e Annabel Jones. Apesar de “2020 Nunca Mais” ser considerado pertencente ao gênero humorístico, elaborando uma retrospectiva cômica quanto a vários acontecimentos sucedidos no ano que leva o seu título, subjaz em sua narrativa uma crítica contundente em relação à forma como alguns governantes lidaram com os principais fatos marcantes desse ano, entre eles: a pandemia; o racismo e a destruição da natureza.

Considerando-se o conteúdo apresentado, inicialmente podemos objetar quanto ao exagero na focalização de questões particulares envolvendo principalmente os EUA e o Reino Unido, apesar de ter como pano de fundo a pandemia e a situação vivida por outras nações, mas sempre colocando como protagonistas históricos os principais políticos desses citados países.

Do ponto de vista direcionado para uma análise crítica relativa ao ano de 2020, sem dúvida que para podermos compreendê-lo de maneira mais realista, também precisamos considerar vários episódios ocorridos em outras partes do mundo que foram tão importantes quanto àqueles sucedidos nos EUA, que naturalmente acabaram se destacando sob os holofotes da mídia em razão de seu poderio econômico e influência cultural exercidos a nível mundial.

Entre outros fatos importantes desse fatídico ano, podemos citar: o drástico crescimento do desmatamento na Amazônia, que mesmo devido à gravidade do impacto ambiental gerado, ocupou modesto espaço no jornalismo mundial; as formas como a China, o primeiro epicentro da pandemia, e a Coréia do Sul lidaram com esse problema para evitar com que a doença se espalhasse pelos seus países. Porém, essas ocorrências não aparecem no filme e a meu ver, além de outras, são tão importantes quanto àquelas expostas exaustivamente por ele, tal como a turbulenta eleição presidencial norte americana.

Feitas essas ponderações, parto agora para algumas importantes reflexões suscitadas pelo filme que, grosso modo, levando-se em conta a forma como os fatos foram destacados na retrospectiva poderíamos traduzi-los conforme o seguinte dito popular: “é rir para não chorar”.

Dentro da arte, seja no cinema ou na literatura, a ironia foi utilizada frequentemente como recurso para a realização de questionamentos frente ao existente. Um modo para despertar a consciência do telespectador e do leitor perante algum elemento sério constante na realidade mediante figuras de linguagens amenas e engraçadas que num primeiro momento tivessem o potencial de causar risos para, logo após, uma vez percebida a presença da crítica quanto aos fatos apresentados, provocassem incômodos e inconformismos nas pessoas frente aos mais variados tipos de situações por elas experimentadas.

Assim sendo, o filme objeto desse artigo percorre exatamente esse trajeto narrativo por meio da atuação de personagens cômicos que representam de maneira caricaturada alguns tipos de tendências comportamentais marcantes do mundo contemporâneo.

Entre esses personagens interpretados por atores famosos, encontramos: alguns profissionais (jornalista, psicóloga, historiador, cientista, youtuber); a presença da realeza britânica; uma porta voz não oficial do governo estadunidense; e um ambicioso empresário bilionário.

Além desses ícones conhecidos dentro do filme pelo grande público, ainda aparecem uma figura anônima, sem notoriedade alguma, e outra simplória que possui uma visão de mundo fundamentada apenas naquilo que é difundido nas redes sociais, acreditando piamente em conteúdos com grandes indícios de se constituírem como fake news.

Os comentários feitos por cada um desses personagens diante dos principais fatos ocorridos em 2020 representam alguns tipos de comportamentos clichês apresentados pelos mais diferentes segmentos sociais existentes no mundo real, que fundamentalmente diante da superficialidade e da parcialidade inerentes aos seus posicionamentos, tornam de certa forma os seus discursos muito parecidos entre si ao se estruturarem em bolhas polarizadas, independentemente de suas profissões e classes sociais.

Começando pelo cientista que sob a égide científica especula algumas hipóteses absurdas, sem bases plausíveis, sobre a origem do vírus provocador da Covid 19 que supostamente, segundo a sua teoria, havia surgido de morcegos.

Essa é uma crítica que pode ser feita a alguns meios acadêmicos e também à própria Organização Mundial da Saúde que durante o início da pandemia no afã de prestar explicações à sociedade quanto ao que efetivamente estava ocorrendo com relação à expansão mundial desse problema sanitário, acabou por cometer sérios erros, inclusive no sentido de divulgação das informações quanto à prevenção da doença.

Lembremo-nos que o uso de máscara demorou um pouco para ser reconhecido pela referida instituição como um meio preventivo eficaz, além do fato de a Covid19 ser considerada tardiamente como uma pandemia.

Nos pronunciamentos desse personagem também transparece um pouco da arrogância presente em determinados meios científicos, representada na sua essência por acirradas disputadas ideológicas que tentam impor uma roupagem de veracidade para diversas questões em que muitas vezes não há elementos suficientemente testados para a comprovação das hipóteses levantadas.

Por outro lado, algumas vezes, encontramos algumas evidências clínicas nas práticas médicas, mas que em decorrência de interesses econômicos não lhes são dados muitos créditos, no intuito de se divulgar certas descobertas ou constatações para a população.

Assim sendo, surgem mais monólogos do que diálogos entre posições científicas divergentes. Comunicações essas que poderiam ser fundamentais para fazer com que a ciência avançasse e consequentemente resolvesse vários problemas que afligem cotidianamente as pessoas e não apenas impor certas correntes de pensamento que se tornam hegemônicas e legítimas dentro da sociedade.

Saindo desses debates presentes nos meios acadêmicos, que sem dúvida envolvem muitos interesses alheios aos fins genuinamente científicos, tal como a compreensão efetiva quanto às raízes de determinados problemas, entramos na esfera propriamente política em que a principal crítica colocada pelo filme diz respeito à uma forte presença do negacionismo na sociedade.

Referido termo tem sido bastante utilizado na atualidade para apontar várias tendências sociais reacionárias, sendo trabalhadas pelo filme sob diversos aspectos.

No caso da pandemia, significa basicamente a tendência obsessiva demonstrada por alguns chefes de Estado e pessoas comuns para negarem o potencial patogênico e transmissivo do vírus Sars-cov2, apesar de todas as evidências e alertas realizados por diversos pesquisadores das universidades mais respeitáveis do mundo sobre a sua gravidade.

Uma negação que se desenvolveu tanto a ponto de se converter em mais uma negação feita por esses próprios governantes, a fim recuperarem algum grau de confiabilidade política. Em outras palavras, posteriormente esses mesmos governantes começaram a negar aquilo que eles próprios haviam afirmado anteriormente com relação ao fato de a doença não se constituir como algo sério e que a vida poderia continuar sendo levada normalmente, sem preocupação alguma, como se nada mais grave estivesse acontecendo. Nesse tipo de atitude estaria envolvido algum tipo de transtorno psicológico ou seria de fato a manifestação de uma descarada hipocrisia?

Somente a compreensível e devida preocupação com a economia, principalmente aquela relativa aos países mais pobres, não justifica tamanho descaso com os governados, pois em vez de se atenuar a profunda crise financeira advinda em muitos países, entre eles o Brasil, acabou por posterga-la e intensifica-la de modo a tornar a saída desse precipício uma tarefa épica.

Tempos sombrios que ensejam reminiscências medievais em que a esse tipo específico de negacionismo se juntam outros em voga, entre eles: a crença difundida em alguns meios eletrônicos e religiosos de que a Terra não é redonda, mas plana, apesar de todas as imagens registradas no espaço e do conhecimento acumulado a séculos; a ideia de que não há aquecimento global, a despeito de todas as medições realizadas diariamente em várias partes do planeta, das imagens gravadas por satélites e das constantes tragédias ambientais decorrentes do superaquecimento global, alertadas incessantemente pelos cientistas etc.

Continua na próxima parte!!!

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POR MÁRCIO SANTIM

DEATH TO 2020 (2020 NUNCA MAIS) PARTE2

2020 NUNCA MAIS
(DEATH TO 2020) – PARTE 2

Por Márcio Santim

Dando sequência a nossa análise sobre o filme, no seu final ainda temos a apresentação de mais um tipo de negacionismo,  bem comum nos meios políticos, no momento em que a porta-voz não oficial do governo norte-americano ao constatar a derrotado atual presidente, imediatamente começa a desdizer todos os seus pronunciamentos anteriores em defesa do republicano, dando um giro de 360 graus na  sua superficial inclinação ideológica, tal como se troca de roupa, a fim de começar a elogiar de forma extremamente bajuladora o democrata vencedor.

Referida atitude assemelha-se demais aos comportamentos apresentados por políticos que abandonam facilmente qualquer “ideologia” quando lhe são fornecidos algum tipo de vantagem pessoal por aqueles que ocupam o poder num determinado momento. O chamado “fazer política” se revela como numa barganha infindável realizada nos balcões de negócio espalhados em diversas instituições públicas.

No caso da polêmica envolvendo as vacinas desenvolvidas para o combate da Covid-19, pudemos observar vários políticos brasileiros que se declaravam totalmente contra a Coronavac, mas que, contraditoriamente, logo após o início da sua aplicação no país se colocaram como favoráveis e, mais do que isso, ainda tiraram fotos e fizeram marketing em cima daquilo que criticavam com tanta veemência.

Observamos também a negação da existência do racismo que foi bastante mencionada no filme, tomando como base o assassinato de George Floyd cometido por um policial em Minneapolis – EUA. Para ilustrar esse tipo de comportamento, temos a entrevista concedida por um professor de história sobre os protestos que estavam ocorrendo naquele país por conta do mencionado crime, onde ele de certa forma inverte a questão racial ao comentar os cartazes espalhados nos protestos que registravam a seguinte frase: “vidas negras importam”.

Para ele, essa frase se caracterizava como racista, pois segundo a sua visão todas as vidas importavam e não apenas aquelas pertencentes às pessoas negras. Bem, pode-se considerar uma concepção bem rasa, ainda mais provindo deum intelectual, pelo fato de se ater apenas ao texto literal e não ao contexto social em que a frase se encontrava inserida.

Óbvio que no sentido atribuído à mencionada frase, a palavra “TAMBÉM” estava implícita e não foi explicitada justamente para chamar a atenção frente a perpetuação das diferenças raciais, isto é, enquanto todas as vidas deveriam importar, a realidade tem se mostrado bem diferente desse ideal, considerando-se todas as evidências históricas e dinâmicas relacionais que apontam para a persistência desses tipos de discriminação, além da violência e exploração exercidas contra as pessoas negras em decorrência das marcas deixadas por um longo processo de escravidão a que foram submetidas.

Além disso, encontramos com certa frequência no filme, a apresentação das mais variadas falsidades relacionadas àquelas questões que poderíamos chamar de politicamente corretas. Para exemplificar, temos a figura de um empresário bilionário que formalmente nos seus discursos apoia a preservação do meio ambiente, mas que na prática age de forma contrária, visando o seu contínuo enriquecimento, a despeito dos malefícios causados no planeta em razão de empreendimentos grandiosos e extremamente gananciosos que exploram inescrupulosamente suas riquezas naturais.

O apoio às causas humanitárias e as caridades despendidas por esses tipos de pessoas funcionam exclusivamente como recurso de marketing e servem fundamentalmente para promover a sua imagem pessoal e consequentemente o seu reconhecimento público.

Além dele, podemos observar os comportamentos apresentados pelo personagem youtuber, sempre engajado em questões polêmicas que de algum modo alcançaram grande notoriedade pública e geraram diversos celeumas nos debates cotidianos.

O objetivo desse profissional era extrair o máximo proveito dessas situações envolvendo comoções provenientes das massas, mas sempre se mantendo ao lado da opinião pública majoritária para poder alavancar ainda mais o seu canal na internet e assim conquistar um número cada vez maior de seguidores.

Essa é uma característica de personalidade superficial e volátil, capaz de fazer com que a pessoa se adapte aos mais variados tipos de situações, não importando o que ela realmente sente e pensa sobre determinados fatos, mas sim as tendências de aprovação e de reprovação apontadas pelo termômetro social naquele exato momento.

Nesse clima de sensibilização coletiva, surge uma enxurrada de solidariedades, tais como aquelas demonstradas pelo youtuber ao apoiar o protesto contra o racismo, que, como disse anteriormente, atuam muito mais no intuito de promover a sua imagem pessoal perante o público do que a apresentação de críticas contundentes que possibilitem efetivas transformações sociais.

Com relação a quantos problemas existentes no mundo, nem a mídia, nem as celebridades, nem as pessoas comuns voltam seus olhares. Entre eles: as diversas epidemias que assolam o continente africano; a perpetuação da fome e outros tipos de miséria espalhadas por diversas partes do mundo que aniquilam diariamente milhares de pessoas em pleno século XXI etc.

Pode se atentar leitor para o efeito manada desses tipos de questões em que com a mesma velocidade que surgem sob os holofotes da grande mídia, geralmente também desaparecem; não pelo fato de os problemas terem sido resolvidos, mas em razão dos meios de comunicação se focarem conjuntamente em outros tipos de acontecimentos eleitos arbitrariamente como prioritários e se esquecendo completamente dos demais problemas existentes.

Infelizmente, os modismos acabam compondo a pauta jornalística e outros canais das redes sociais de forma a deixarem de lado questões essenciais que nem sequer foram minimamente solucionadas.

Além desses modismos, ainda encontramos uma impregnação de parcialidades no sentido de como as notícias são divulgadas pelo jornalismo, atendendo essencialmente a interesses particulares bem distintos da sua função social que seria informar o público.

Por mais que tivesse razão em muitos de seus comentários, o personagem representando o jornalista revela uma visão limitada frente a interpretação dos fatos, pois não abre espaços para o debate entre profissionais com posições distintas e fundamentadas diante das problemáticas apontadas.

Essa tendência tem sido bem comum no jornalismo atual, visto não haver debates profícuos que promovam efetivos entendimentos sobre diversos acontecimentos marcantes da época em que estamos vivendo. Apesar de programas desse gênero reunirem diversos profissionais, tratam-se muito mais de estabelecimentos de monólogos em que todos defendem sempre uma única posição, com raras variações de visões diante dos fenômenos observados.

O reflexo disso está no constante estabelecimento de bolhas sociais sedimentadas no ódio e na ignorância, relativas a posicionamentos fragmentados e acríticos que colaboram significativamente para a formação de ideias preconceituosas e outros tipos de radicalismos que em nada contribuem para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade.

Isso torna a credibilidade da informação divulgada pelos meios de comunicação no mínimo questionável, pois ao tentarem impor uma concepção hegemônica dos fatos, sem espaço para que o telespectador possa pensar e formar suas próprias convicções, eles contribuem para a implantação de uma terrível forma de autoritarismo mediante a manipulação da consciência dos indivíduos.

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POR MÁRCIO SANTIM

COMO SEGUIR RETO EM LINHAS CÍCLICAS E TORTAS? PARTE 1

COMO SEGUIR RETO EM LINHAS CÍCLICAS E TORTAS? PARTE 1

Por Jairo Maurano Machado

Hodiernamente, a discussão sobre a garantia da participação das pessoas com deficiências na vida em sociedade tem ganhado bastante destaque, face as inúmeras tensões que se agregam nessa temática. Se na educação se discute qual seria o lugar ideal para educá-las, no campo do trabalho algumas políticas foram criadas para lhes assegurar postos de trabalho.

Na realidade, toda essa discussão está imbricada com um direito muito mais básico, correspondente no efetivo exercício da cidadania por uma grande parcela da população que, por séculos, tem seus direitos cerceados e vilipendiados simplesmente por fatores ligados a questões metafísicas, religiosas, biologizantes e até mesmo culturais e sociais.

Se na Antiguidade ou no período medieval as pessoas com deficiências eram consideradas bênçãos da Providência divina ou seres dominados pelo demônio, atualmente elas são compreendidas, de modo geral, como um grupo de segunda classe, dependente e sem nenhum valor, e aqui se entenda valor econômico. Dessa construção seria possível extrair algumas indagações.

Primeiramente, é de se notar que, no aspecto histórico, não se verifica uma linearidade entre uma e outra concepção sobre as pessoas com deficiências. Sugere-se que o que há, na verdade, é uma única estrutura que se modifica apenas por contextos que a tangenciam, como as evoluções tecnológica, econômica, cultural e social.

É evidente que a humanidade se desenvolve ao longo do tempo e com ela tudo aquilo que está ao redor, mas intenciona-se aqui acreditar que algumas estruturas ainda permanecem, como justamente aquela estabelecida no que diz respeito à participação social das pessoas com deficiências. Resta saber, a partir dessa indagação, qual o motivo que justifica a manutenção dessa estrutura. No entanto, o que se pretende aqui vai além do que responder, e sim, evidenciar e frisar algumas dessas questões.

Nesse sentido, outro ponto que merece destaque é o fato de as pessoas com deficiências sempre ocuparem nesse cenário a posição de terceira pessoa. Não é raro ler e ouvir que “às pessoas com deficiências é necessário garantir proteção de seus direitos”. De modo algum se pretende dizer que a elas não cabem direitos, mas quais direitos? Ditos por quem? Por elas mesmas?

Ao que se vê, somente nos últimos anos é que ganhou espaço a compreensão de que esses direitos e garantias só podem ser discutidos pelas próprias pessoas com deficiências. Ora, nada mais esperado do que construir um sistema de proteções a partir das discussões feitas por esse próprio grupo.

Caminhar nessa perspectiva é o equivalente a entender que as pessoas com deficiências não são coadjuvantes de suas próprias vidas, mas sim, as verdadeiras e legítimas protagonistas. Não à toa que a convenção Internacional sobre os direitos das Pessoas com deficiência, publicada pela ONU em 2007, traz em seu bojo a ideia do “nothing for us without us” (nada sobre nós sem nós).

Provavelmente, seja essa a mais importante inovação no tocante à garantia promovida pelo Estado sobre o exercício da cidadania pelas pessoas com deficiências. Em vez de dar voz, é necessário também escutar. Daí que decorre a importância de se ocupar o tão famigerado lugar de fala. Nada adiantaria permitir a fala sem que houvesse o interlocutor.

E mais que isso, não basta simplesmente haver quem fale e/ou escute, é preciso passar da abstração para a concretude. É necessário que essas falas se tornem direitos moral e positivada mente garantidos.

Como dito anteriormente, se toda essa discussão permeia diversos aspectos da sociedade, inclusive o cultural, é também este aspecto que será utilizado para ilustrar todo esse percurso, que de linear nada tem. Afinal, se a arte imita a vida, deve reproduzi-la em todas as suas formas.

Partindo dessa proposta, vale mencionar aqui a primeira das obras cinematográficas que servirão de base para ilustrar as indagações anteriormente explicitadas. Trata-se do filme o Homem elefante, de 1980, que narra a trajetória de um homem que tem a maior parte de seu corpo deformado e, por conta disso, é exibido como aberração em circos e espetáculos, até que um médico o encontra, retira-o desse ambiente e passa a tutelá-lo.

Dessa breve descrição já se pode inferir ao menos aquelas primeiras concepções acerca das pessoas com deficiências, a metafísica e a teológica, pois ora John Merrick (John Hurt) é visto como um monstro, ora recebe atenção do dr. Frederick Treves (Anthony Hopkins), que numa postura caritativa o acolhe.

E a partir do momento em que essas pessoas, segundo a visão teológica, são consideradas filhos de Deus, é necessário que elas, agora, passem a seguir determinados comportamentos, do que decorre a necessidade do castigo, do isolamento e da segregação.

Surge, então, comisso a visão médica e patológica acerca da deficiência. Se antes as pessoas não eram acolhidas por serem endemoniados, agora, na condição de seres cristãos, devem ser isolados e segregados da sociedade, pois afinal o convívio coletivo seria um preço muito alto a se pagar. Isso se ilustra no acolhimento feito pelo Dr. Treves, em que Merrick ainda é mantido isolado e segregado da sociedade à medida que sua trajetória se desenvolve no contexto do hospital.

Entretanto, esse acolhimento oferece paralelamente outra compreensão, qual seja, da educabilidade das pessoas com deficiências. Soma-se então às concepções metafísica, médica e patológica a perspectiva pedagógica.

E novamente retomando as indagações propostas anteriormente, outra passagem do filme que vale ser frisada é aquela em que se descobre que Merrick se expressava bem, ainda que com certa dificuldade de falar, assim como era bastante habilidoso com confeccionar dobraduras baseado na imaginação e nas memórias que possuía.

Por essa passagem é possível inferir algumas situações. A primeira delas é de que até então os deficientes, a despeito de toda a evolução que parte do abandono da visão deque eram coisas para assumir a condição de seres humanos filhos de deus, ainda eram objetificados. Veja-se que as capacidades de John Merrick geram grand esurpresa para Frederick Treves.

Questiona-se, a partir disso, se de fato houve algum tipo de superação daquelas concepções oriundas da antiguidade e da Idade Média. Parece mais prudente afirmar que, na realidade, essas ideias coexistem até os dias atuais, configurando uma certa sensação de atemporalidade. E com essas ideias muitas outras são consequências, como a ignorância e o preconceito. Nesse sentido, válido então assumir que não há linearidade, mas apenas contextos distintos que conservam as mesmas estruturas.

E ao menos dois outros trechos do filme retratam uma espécie de questionamento ético feito pelo Dr. Treves; o primeiro deles feito por ele próprio, ao questionar para sua esposa se sua conduta não seria a mesma do dono do circo onde vivia Merrick; o segundo momento que indica esse questionamento parte da enfermeira do hospital, ao demonstrar para o médico seu descontentamento em relação à exposição que John estava sofrendo por conta das visitas que recebia de pessoas estranhas.

Todo esse quadro vai culminar numa superexposição de Merrick, o que vai estimulá-lo a fugir e, em seguida, a ser perseguido por algumas pessoas. É neste momento, em que John é acuado por essas pessoas e se vê obrigado a bradar que também é um ser humano, o que demonstra o que vem ocorrendo ao longo da história: o fato de as pessoas com deficiência não serem ouvidas.

Até mesmo a forma do discurso em que isso é proposto traz a ideia de que as concepções já descritas ainda estão presentes hoje em dia. Como salientado anteriormente, não é raro ouvir que é preciso “dar voz às pessoas com deficiência”, quando, na verdade, voz elas já possuem. Dir-se-ia então que as pessoas com deficiência “precisam ser ouvidas”, do que se denota uma postura que ainda implica uma iniciativa focada nas próprias pessoas com deficiência, excluindo e ocultando a real necessidade, no sentido de que a atitude de ouvir deve partir, sim, da sociedade também.

Em outras palavras, é necessário ressignificar as visões, aqui entendidas como equivocadas, de que “é preciso dar voz” ou de que “as pessoas com deficiência devem ser ouvidas” e reconhecer que a sociedade necessita, e muito, ouvir antes de formular quaisquer concepções.

Provavelmente o quadro nos dias atuais seja bastante diferente e tenha evoluído de algum modo, especialmente quando se tem em vista a perspectiva biopsicossocial, adotada por diversos documentos internacionais e nacionais, tais como a Convenção da ONU de2007 e, no plano nacional, a Lei Nº 13.146/2015, a Lei Brasileira  de Inclusão (LBI).

Por essa perspectiva, afasta-se a definição de deficiência de conceitos metafísicos e/ou biomédicos e passa-se a indicar que limitações existentes na sociedade fazem parte daquela definição. Retira-se a centralidade da deficiência sobre quem a possui e articula-se essa questão com outros fatores, como a existência de barreiras de várias origens (arquitetônica, comunicacional, tecnológica e atitudinal) e o consequente oferecimento de proposta de sua eliminação.

A deficiência, então, deixa de ser compreendida como uma lesão, um defeito, um desvio que alguém possui. Ela é entendida, agora, como um conjunto de fatores existentes no ambiente que podem dificultar e até mesmo impedir a participação da pessoa na vida em sociedade e, consequentemente, exercer sua cidadania. Não se trata mais então de uma característica física que a pessoa apresenta, mas dos obstáculos que dificultam a participação social dessa pessoa por conta daquela característica.

Continua na próxima parte em que discutiremos mais sobre a perspectiva biopsicossocial das deficiências.

Retomando a discussão colocada na primeira parte do artigo, toda a construção da perspectiva biopsicossocial deriva do movimento denominado de Disability Studies ,constituído por teóricos inicialmente oriundos da Inglaterra. Os estudos deste grupo deram origem ao modelo social da deficiência, segundo o qual se evidenciaa influência social sobre a definição de deficiência, pautada nas relações de exercício do poder de classes dominantes sobre as dominadas, especialmente como avanço do sistema capitalista, uma vez que a deficiência é preponderantemente entendida como uma tragédia, um desvio da norma.

Nesse sentido, todo aquele que não atenda a um determinado padrão imposto pelo capitalismo é considerado um ser desviante. Todavia esse raciocínio apresenta algumas falhas. A primeira delas é que a imposição desse padrão vem justamente pela minúscula parcela da sociedade que possui o poder, isto é, pela classe dominante. É ela quem dita o que é a norma e o que é o desvio.

Em segundo lugar, a deficiência, assim vislumbrada como fruto socialmente estabelecido, tem como consequência a rotulação de atributos aqueles que a possuem, isto é, além das características biológicas e/ou físicas oriundas de alguma lesão, a pessoa acaba por ser rotulada pela sociedade por alguma atribuição correlacionada com aquelas características, seja de ordem corpórea ou funcional. Sugerir-se-ia, inclusive, que esse estabelecimento de relações é que dá sustentação ao capacitismo.

Seguindo esse pensamento, infere-se que a deficiência é atualmente compreendida como um processo de opressão social, em que as pessoas com deficiências estão sujeitas a consequências que vão muito além da lesão que lhes acomete, haja vista que a própria sociedade, supostamente perfeita, a todo momento lhes impõe inúmeros obstáculos, tanto de ordem arquitetônica, quanto comunicacional ou mesmo atitudinal.

E novamente lançando mão da sétima arte, vale citar o filme Hasta La Vista, rodado na Bélgica, em2012. Ele retrata a aventura de três jovens deficientes que pretendem fazer uma viagem à Espanha para se divertirem. Contudo, o desafio dos garotos tem início já no âmbito de suas famílias. Em uma dada cena , percebe-se claramente a noção de opressão social, à medida que a decisão sobre como a viagem deve ocorrer parte dos pais e não dos próprios jovens.

Evidencia-se, pois, a necessidade dos garotos de superarem esse primeiro obstáculo, qual seja, conquistar a autonomia sobre como gostariam de conduzir a viagem. Mas ao longo do filme essa “conquista” vai sendo apresentada, seja pela própria vontade dos três protagonistas, seja por questões alheias, como por exemplo a troca de uma van perfeitamente adaptada às necessidades de cada um por uma outra cujas condições de funcionamento são bastante duvidosas.

Dessas passagens verifica-se um dos grandes desafios impostos às pessoas com deficiências em suas vidas, já mencionados anteriormente, a luta por direitos, a conquista por autonomia e liberdade, o direito de protagonismo sobre suas próprias vidas. Retoma-se então o quanto proposto na primeira parte do artigo.

De outra parte, é válido mencionar que, relativamente a essa luta por autonomia e independência, alguns pequenos avanços vêm sendo percebidos. Cite-se, por exemplo, o advento do instituto jurídico denominado de Tomada de Decisão Apoiada (TDA), previsto pela LBI.

Por essa nova figura jurídica, constante no Código civil brasileiro de 2002, ainda que a pessoa com deficiência necessite de auxílio na tomada de decisão durante a prática dos atos da vida civil, ela poderá indicar, por sua livre manifestação de vontade, quais as pessoas de quem deseja apoio. Com isso, aquilo que antes era entendido como regra no sistema jurídico brasileiro relativamente à capacidade civil das pessoas com deficiências tornou-se a exceção.

Se antes essas pessoas estavam sujeitas a sofrerem processos de interdição para serem curateladas, hoje a autonomia de vontade é presumida, de modo que o auxílio é que se configura como exceção e assim só será solicitado por vontade da própria pessoa.

Mas em uma situação ou em outra é visível que a deficiência infelizmente ainda é tida como tragédia, como defeito, como desvio, o que acarreta diversas consequências para as pessoas que compõem esse grupo, face a opressão social a que estão submetidas, seja para fazer uma simples viagem, seja para a prática de atos mais solenes.

Isso também acontece por conta do quanto já comentado anteriormente, relativamente a ausência de linearidade. Se assim o fosse, momentos de ruptura e de quebra de paradigmas seriam percebidos. Contudo, o que se verifica é a coexistência das concepções já citadas e, eventualmente,  a predominância de algumas delas, por mais perversas que sejam.

Ainda que  a visão pautada em um viés de caráter biopsicossocial seja muito mais adequada que aquelas noções teológicas e médico-patológicas, a possibilidade de coexistência de todas essas visões impõem alguns cuidados: necessário verificar se o novo discurso de fato corresponde à realidade; justamente em razão disso é necessário também sempre ter em mente a formulação de um auto-questionamento ético no sentido de saber se as atitudes dos indivíduos estão correspondendo as suas falas; e finalmente, mais que isso tudo, é preciso ouvir.

É importante também haver uma preocupação constante acerca dos processos que garantam às pessoas com deficiências o protagonismo sobre sua própria trajetória. Na verdade, muito mais que “garantir a essas pessoas”, é preciso que elas mesmas participem dessas discussões (nothing for us without us). Somente assim é que estarão legitimada se empoderadas para lutar pelo seu espaço no convívio social, para eliminar o constante processo de invisibilização que vêm sofrendo e, finalmente, para garantir o seu pleno e efetivo exercício da cidadania.

Sobre o autor

Jairo Maurano Machado é graduado em direito pela Universidade de Sorocaba – UNISO(2011). Possui especialização em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto verbo Jurídico (2020) e é servidor público do Judiciário Trabalhista da 15ªRegião desde 2011 (TRT15). Atualmente é mestrando do Programa de pós-graduação em educação Especial da universidade Federal de São Carlos (PPGEES UFSCAR).

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POR MÁRCIO SANTIM

COMO SEGUIR RETO EM LINHAS CÍCLICAS E TORTAS? PARTE 2

COMO SEGUIR RETO EM LINHAS CÍCLICAS E TORTAS? PARTE 2

Por Jairo Maurano Machado

Retomando a discussão colocada na primeira parte do artigo, toda a construção da perspectiva biopsicossocial deriva do movimento denominado de Disability Studies, constituído por teóricos inicialmente oriundos da Inglaterra. Os estudos deste grupo deram origem ao modelo social da deficiência, segundo o qual se evidencia a influência social sobre a definição de deficiência, pautada nas relações de exercício do poder de classes dominantes sobre as dominadas, especialmente como avanço do sistema capitalista, uma vez que a deficiência é preponderantemente entendida como uma tragédia, um desvio da norma.

Nesse sentido, todo aquele que não atenda a um determinado padrão imposto pelo capitalismo é considerado um ser desviante. Todavia esse raciocínio apresenta algumas falhas. A primeira delas é que a imposição desse padrão vem justamente pela minúscula parcela da sociedade que possui o poder, isto é, pela classe dominante. É ela quem dita o que é a norma e o que é o desvio.

Em segundo lugar, a deficiência, assim vislumbrada como fruto socialmente estabelecido, tem como consequência a rotulação de atributos aqueles que a possuem, isto é, além das características biológicas e/ou físicas oriundas de alguma lesão, a pessoa acaba por ser rotulada pela sociedade por alguma atribuição correlacionada com aquelas características, seja de ordem corpórea ou funcional. Sugerir-se-ia, inclusive, que esse estabelecimento de relações é que dá sustentação ao capacitismo.

Seguindo esse pensamento, infere-se que a deficiência é atualmente compreendida como um processo de opressão social, em que as pessoas com deficiências estão sujeitas a consequências que vão muito além da lesão que lhes acomete, haja vista que a própria sociedade, supostamente perfeita, a todo momento lhes impõe inúmeros obstáculos, tanto de ordem arquitetônica, quanto comunicacional ou mesmo atitudinal.

E novamente lançando mão da sétima arte, vale citar o filme Hasta La Vista, rodado na Bélgica, em2012. Ele retrata a aventura de três jovens deficientes que pretendem fazer uma viagem à Espanha para se divertirem. Contudo, o desafio dos garotos tem início já no âmbito de suas famílias. Em uma dada cena , percebe-se claramente a noção de opressão social, à medida que a decisão sobre como a viagem deve ocorrer parte dos pais e não dos próprios jovens.

Evidencia-se, pois, a necessidade dos garotos de superarem esse primeiro obstáculo, qual seja, conquistar a autonomia sobre como gostariam de conduzir a viagem. Mas ao longo do filme essa “conquista” vai sendo apresentada, seja pela própria vontade dos três protagonistas, seja por questões alheias, como por exemplo a troca de uma van perfeitamente adaptada às necessidades de cada um por uma outra cujas condições de funcionamento são bastante duvidosas.

Dessas passagens verifica-se um dos grandes desafios impostos às pessoas com deficiências em suas vidas, já mencionados anteriormente, a luta por direitos, a conquista por autonomia e liberdade, o direito de protagonismo sobre suas próprias vidas. Retoma-se então o quanto proposto na primeira parte do artigo.

De outra parte, é válido mencionar que, relativamente a essa luta por autonomia e independência, alguns pequenos avanços vêm sendo percebidos. Cite-se, por exemplo, o advento do instituto jurídico denominado de Tomada de Decisão Apoiada (TDA), previsto pela LBI.

Por essa nova figura jurídica, constante no Código civil brasileiro de 2002, ainda que a pessoa com deficiência necessite de auxílio na tomada de decisão durante a prática dos atos da vida civil, ela poderá indicar, por sua livre manifestação de vontade, quais as pessoas de quem deseja apoio. Com isso, aquilo que antes era entendido como regra no sistema jurídico brasileiro relativamente à capacidade civil das pessoas com deficiências tornou-se a exceção.

Se antes essas pessoas estavam sujeitas a sofrerem processos de interdição para serem curateladas, hoje a autonomia de vontade é presumida, de modo que o auxílio é que se configura como exceção e assim só será solicitado por vontade da própria pessoa.

Mas em uma situação ou em outra é visível que a deficiência infelizmente ainda é tida como tragédia, como defeito, como desvio, o que acarreta diversas consequências para as pessoas que compõem esse grupo, face a opressão social a que estão submetidas, seja para fazer uma simples viagem, seja para a prática de atos mais solenes.

Isso também acontece por conta do quanto já comentado anteriormente, relativamente a ausência de linearidade. Se assim o fosse, momentos de ruptura e de quebra de paradigmas seriam percebidos. Contudo, o que se verifica é a coexistência das concepções já citadas e, eventualmente,  a predominância de algumas delas, por mais perversas que sejam.

Ainda que  a visão pautada em um viés de caráter biopsicossocial seja muito mais adequada que aquelas noções teológicas e médico-patológicas, a possibilidade de coexistência de todas essas visões impõem alguns cuidados: necessário verificar se o novo discurso de fato corresponde à realidade; justamente em razão disso é necessário também sempre ter em mente a formulação de um auto-questionamento ético no sentido de saber se as atitudes dos indivíduos estão correspondendo as suas falas; e finalmente, mais que isso tudo, é preciso ouvir.

É importante também haver uma preocupação constante acerca dos processos que garantam às pessoas com deficiências o protagonismo sobre sua própria trajetória. Na verdade, muito mais que “garantir a essas pessoas”, é preciso que elas mesmas participem dessas discussões (nothing for us without us). Somente assim é que estarão legitimada se empoderadas para lutar pelo seu espaço no convívio social, para eliminar o constante processo de invisibilização que vêm sofrendo e, finalmente, para garantir o seu pleno e efetivo exercício da cidadania.

Sobre o autor

Jairo Maurano Machado é graduado em direito pela Universidade de Sorocaba – UNISO(2011). Possui especialização em Direito e Processo do Trabalho pelo Instituto verbo Jurídico (2020) e é servidor público do Judiciário Trabalhista da 15ªRegião desde 2011 (TRT15). Atualmente é mestrando do Programa de pós-graduação em educação Especial da universidade Federal de São Carlos (PPGEES UFSCAR).

Até que ponto na atualidade a sociedade conseguiu evoluir efetivamente quanto à eliminação ou pelo menos com relação à atenuação das diversas formas de discriminação e segregação que envolvem as pessoas com deficiência? Será que apesar dos avanços da ciência e das conquistas de determinados direitos por parte delas já podemos pensar em relações sociais mais igualitárias estabelecidas com os indivíduos considerados normais? Esses, entre outros, são alguns temas trabalhados nesse artigo escrito por Jairo Maurano Machado em que na primeira parte ele fará um paralelo com o clássico O Homem Elefante, filme britano-estadunidense dirigido por David Lynch, produzido em 1980 em que muitos dos conflitos apresentados parecem ainda não terem sido superados. Confiram!!!!

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POR MÁRCIO SANTIM